Boom Latinoamericano

Explicamos o que foi o Boom latino-americano da literatura, suas características e temas recorrentes. Além disso, grandes autores.

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Autores como Miguel Ángel Asturias mudaram paradigmas da literatura latino-americana.

O que foi o ‘boom’ latino-americano?

O termo boom latino-americano é entendido como um fenômeno literário e editorial ocorrido entre as décadas de 1960 e 1970quando as obras literárias de um grupo de jovens escritores latino-americanos eram amplamente distribuídas e apreciadas na Europa e em grande parte do mundo.

Essas obras mudaram os paradigmas do que até então se esperava da região na literatura.. Ou como descreve o autor chileno José Donoso: “… uma dúzia de romances pelo menos notáveis ​​irromperam, povoando um espaço antes deserto”.

O Boom latino-americano instituiu muitos dos autores que hoje consideramos clássicos na América Latina, mas que estavam começando na época. Eles apresentaram projetos de novelas experimentais com alto conteúdo social e político.

R) Sim, tornou-se um gesto de vanguarda, especialmente na Europa e outras latitudes, então dominadas por considerações bastante conservadoras. O primeiro passo dessa internacionalização foi, nesse sentido, o triunfo desses autores na Espanha.

Alguns nomes do Boom são mais conhecidos do que outros, e alguns de seus autores tiveram mais reconhecimento formal do que outros. Porém, não há realmente datas de início e término do Boom, já que não era realmente um movimento literário organizado, mas um fenômeno editorial.

Por isso, não há uma lista formal de seus integrantes, nem dos precursores que serviram de escola para o surgimento dessa importante geração de escritores latino-americanos.

Ao mesmo tempo, o boom latino-americano abriu grandes portas para a literatura latino-americana. Rapidamente se tornou uma referência literária no mundo hispânico e não só, através de sucessivas traduções e edições por todo o globo.

Em especial, o público americano foi impactado pelas obras do Boom, em um contexto político mundial bastante desafiador como o da Guerra Fria, mesmo mudando paradigmas do momento quanto à interpretação e papel dos escritores na sociedade.

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Origem do boom latino-americano

El boom começa na década de 1960. Foi uma época particularmente conturbada na América Latina devido à Guerra Fria e suas tensões entre movimentos revolucionários, como a triunfante Revolução Cubana de 1959, e a interferência política e diplomática dos Estados Unidos contra eles, que financiou sangrentas ditaduras de direita na América Latina.

Esta imagem foi ainda mais complicada quando a intelectualidade do continente estava dividida em opiniões sobre o regime de Fidel Castro após a prisão em 1967 do poeta cubano Heberto Padilla e sua esposa, Belkis Cuza Malé, acusados ​​de atividades subversivas por terem lido publicamente o poema “Provocações”.

Foi nesse contexto que surgiram os romances Boom, aproveitando o súbito interesse pela América Latina que o período havia despertado. Do colosso editorial Seix-Barral, Carlos Barral e a agente literária Carmen Balcells, tomaram a iniciativa de divulgar obras latino-americanas.

Ambos foram instalados em Barcelona e definiram uma projeção particular para os mercados francófonos. Chegou-se a afirmar que as vendas massivas desses romances latino-americanos praticamente reviveram a moribunda indústria editorial espanhola, submetida à censura do regime de Franco.

Características do boom latino-americano

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Autores como Vargas Llosa usaram a polifonia e a experimentação formal.

O boom foi essencialmente um fenômeno editorial e se concentrou sobretudo no gênero romance. Destacaram-se projetos novelísticos que tendiam à experimentação formalà inovação da linguagem e a uma certa ousadia social e política.

Uma característica comum desses romances é seu desejo pela vanguarda: tratamentos do tempo de forma não linear, aposta na polifonia ou o aparecimento de múltiplas vozes na história, uso abundante de neologismos e trocadilhos. Enfatizou-se um certo internacionalismo ou identidade regional e nacional que não se distanciou do relato histórico, mas o utilizou como pano de fundo.

Seus temas e perspectivas renovaram uma notória estagnação do realismo literário da época, e levaram ao surgimento de novos nomes no cenário editorial hispânico. Por outro lado, o boom foi criticado por consistir inteiramente de escritores do sexo masculinoem cujos romances o tratamento do feminino evidencia o machismo vigente na América Latina.

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Além disso, a maioria provinha de setores esclarecidos e universitários da sociedade, com significativo acesso à cultura universal. Em outras palavras, eles não eram muito representativos do povo latino-americano da época.

Temas do boom latino-americano

Não há unidade temática nos romances de boom. Isso porque suas apostas respondem sempre ao universo de interesses e ao estilo pessoal do autor.

No entanto, em linhas gerais, pode-se dizer que o Boom preferiu temas relacionados ao nacional, ao regional ou que aspirassem a uma nova identidade latino-americana. Consequentemente, essas obras visavam substituir velhos clichês por arquétipos que, por sua vez, se tornariam clássicos muito rapidamente.

algo importante é quebrando as barreiras entre o fantástico e o cotidiano. Foi assim que surgiram aspectos como o Realismo Mágico, por um lado, usando um certo ar de exotismo latino-americano para narrar acontecimentos maravilhosos de uma perspectiva realista.

Por outro lado, ficção histórica, fortemente ancorada nas tensões políticas da realidade, teve seu espaço nas novelas Boom. Muitos deles exploraram o tema do ditador latino-americano, como Eu, o Supremo (1974) do paraguaio August Roa Bastos.

Autores e obras do boom latino-americano

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Carlos Fuentes foi um dos escritores mexicanos pertencentes ao Boom.

Os principais autores do boom (e seus principais romances) foram quatro, de diferentes nacionalidades:

  • Julio Cortázar (Argentina, 1914-1984). Exilado na França durante a presidência de Juan Domingo Perón, foi um entusiasta declarado das revoluções cubana e sandinista, bem como do governo de Salvador Allende no Chile. Sua obra de contos e romances aventurou-se no fantástico com grande sucesso. seu romance Amarelinha (1963) consolidou sua entrada no Boom, sendo um texto que pode ser lido segundo múltiplos percursos, não necessariamente de forma linear.
  • Gabriel García Márquez (Colômbia, 1927-2014). Jornalista de profissão e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, ficou famoso por sua entrada no Boom durante sua estada na Europa, antes de residir o resto da vida no México, com seus romances. O coronel não tem ninguém escriba (1962), Cem anos solitários (1967) e O Outono do Patriarca (1975), entre outros.
  • Carlos Fuentes (México, 1928-2012). Nascido no Panamá, filho de diplomatas mexicanos, foi um importante crítico e lutador contra a discriminação no México e professor em prestigiadas universidades americanas. Sua obra A morte de Artêmio Cruz (1962) o catapultou para a fama, pois ali narra a vida de um ex-revolucionário mexicano em seu leito de morte. Ele também ficou famoso por Aura (1962) e Nossa terra (1975).
  • Mario Vargas Llosa (Peru, 1936-). Um dos maiores romancistas latino-americanos do século XX, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, é advogado de profissão e possui o título nobre de Marqués de Vargas Llosa, concedido pelo rei da Espanha Juan Carlos I. um entusiasta particular da Revolução Cubana em seus primórdios, embora mais tarde tenha se tornado um ferrenho oponente dela. Seu sucesso internacional começou com seu romance A cidade e os cachorros (1962), A estufa (1965) e Conversa na Catedral (1969), embora posteriormente tenha publicado vários livros sobre jornalismo, ensaios e crítica literária.
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O boom, porém, também firmou outros autores de outras nacionalidades, que merecem destaque, pois suas obras tiveram igual significado para a história da literatura latino-americana, como:

  • Juan Rulfo (México, 1917-1986). e seus livros Pedro Paramo (1955) e A planície ardente (1953).
  • August Roa Bastos (Paraguai, 1917-2005). com seu romance Eu, o Supremo (1974).
  • Manuel Puig (argentino, 1932-1990). com seus romances bocas pintadas (1969) e O beijo das mulheres aranha (1976).
  • Miguel Angel Astúrias (Guatemala, 1899-1974). Autor de Sr. presidente (1967).
  • José Donoso (Chile, 1924-1996). Vigarista O pássaro obsceno da noite (1970).

Referências

  • “Boom latino-americano” na Wikipedia.
  • “O que é o boom latino-americano? Vou te explicar tudo” (vídeo) no Phantom Monitor.
  • “Literatura latino-americana e o boom” em AbeBooks.com.
  • “O estrondo América Latina” (vídeo) em Educ.ar.
  • “Os romances do ‘boom’ (literatura latino-americana)” na Enciclopédia Britânica.