Crônica

Explicamos o que é a crônica e a que gênero ela pertence. Crónica jornalística, literária e histórica. Exemplo de uma crônica curta.

crônica periódica
Exemplo de crônica jornalística.

O que é uma crônica?

Quando se fala em crônica, geralmente se refere a um gênero narrativo duplo, em parte literário e em parte jornalístico, já que não tem a liberdade de imaginação da ficção literária, mas usa abundantemente seus recursos formais para abordar acontecimentos e personagens reais, verdadeiros e verificáveis. Gabriel García Márquez, famoso jornalista e escritor colombiano, definiu a crônica como “um conto que é verdadeiro.”

As origens da palavra crônica remontam ao grego crônicas, palavra de cronos (tempo), já que alude a uma narrativa ordenada de acordo com sua linha do tempo. É por isso que as primeiras crônicas que se conhecem foram, justamente, relatos de acontecimentos ordenados de acordo com o momento histórico, semelhantes a diários ou relatórios privados.

A crônica popularizou-se no meio jornalístico a partir do chamado jornalismo neoamericano (Novo Jornalismo), que consistia em uma geração de repórteres e escritores de vanguarda, dados a usar esse gênero para atualizar a face do jornalismo. Com isso, conseguiram inverter a tradicional pirâmide informativa do paradigma de Harold Lasswell, que estabelecia a obrigatoriedade de toda notícia conter todas as informações relevantes desde o início, e depois conteúdos adicionais. o crônicaEm vez disso, ele propõe o caminho inverso, como fazem as histórias literárias.

Atualmente existem debates acadêmicos sobre se a crônica é ou não um gênero literário ou jornalístico. E a partir do enfraquecimento das fronteiras entre os gêneros do discurso (jornalismo, literatura, pedagogia, arte, etc.) que caracteriza a contemporaneidade, esse debate torna-se ainda mais difícil.

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tipos de crônica

A classificação do gênero crônica é sempre discutível. Mas costumam ser classificados de acordo com seu foco ou tema, e o grau de fidelidade com a verdade histórica que demonstram.

  • crônica jornalística
    • crônica esportiva
    • Crônica negra de eventos
    • crônica política
    • crônica da sociedade
    • crônica de viagem
  • crônica literária
  • crônica histórica

De acordo com sua abordagem jornalística, as crônicas jornalísticas também podem ser classificadas como informativas ou branco (maior grau de objetividade, mais parecido com a notícia) e interpretativos ou opinativos (investigam, interpretam e explicam o porquê do que é narrado).

exemplo de crônica

A seguir, um fragmento da crônica da jornalista Marta Ruiz, para o jornal Semana Postado em 23/02/2013.

Breve crônica de uma viagem a Havana (fragmento)
marta ruiz

Há duas semanas peguei um avião e fui a Havana para ver de perto o que está acontecendo por lá. Acordei cedo para o Hotel El Palco, em cujo centro de convenções acontecem as reuniões governo-guerrilha. Ao contrário da crença popular, há pouca imprensa colombiana lá. Naquele dia, véspera do fim de uma rodada iniciada com os ânimos inflamados pelo sequestro de dois policiais, estavam presentes apenas os correspondentes da RCN e do Caracol e um punhado de jornalistas cubanos.

Naquela manhã, Iván Márquez ficou em frente ao microfone e leu as 10 propostas mínimas para o reconhecimento político dos camponeses. “Sempre tiramos 10”, comentou durante o café, referindo-se ao ritual diário de apresentar ideias sobre o que seu homólogo do governo, Humberto de la Calle, chamou de “o divino e o humano”. Márquez aproveitou o intervalo para terminar um grosso charuto já meio fumado. Naquela época, era desconhecida a foto em que o líder guerrilheiro posava para a câmera em uma motocicleta Harley Davidson, e que nos confirmava, junto com o tabaco, que a revolução de Márquez não contradiz certos prazeres.

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Enquanto as FARC fazem seu ritual matinal, a delegação do governo passa em silêncio, sem sequer olhar para o que consideram um espetáculo midiático. Mas os jornalistas quebram a cabeça tentando encontrar notícias que realmente despertem interesse na Colômbia. Apesar de o dia do jornalista nos ter apanhado ali, e as FARC o terem celebrado com um mojito, e terem gritado com grande entusiasmo: Vivam os comunicadores sociais!, os guerrilheiros pensam que a discrição das conversas se deveu a uma estratégia de mídia. Um dos delegados da insurgência é francamente nostálgico: “Gostamos mais do esquema de Caguan porque estávamos mais próximos dos jornalistas. Agora eles os trocam a cada rodada”.

Naquela tarde, tive uma conversa informal com Sergio Jaramillo, o Alto Comissariado para a Paz do governo Santos. Naquela época, segundo ele me contou, houve avanços muito importantes na Mesa na questão fundiária, mas, respeitando a regra do sigilo, ele não mencionou o conteúdo. Ele me assegurou que, se continuar nesse ritmo, é possível chegar a um acordo-quadro em um prazo razoável. Quando lhe perguntei sobre o clima ruim do país em relação aos diálogos, ele não escondeu sua amargura: “O campo urbano parece não se importar com o que acontece no campo”, disse-me.

De ambas as delegações, gostaria de destacar o respeito mútuo com que se tratam e a incrível disciplina que têm para não quebrar o sigilo da Diretoria, sinal de que ambos querem cuidar do processo. O que eles comentam é que as metodologias para abordar as questões são muito diferentes. É como materialismo histórico versus Power Point. Enquanto as FARC fazem longas apresentações históricas sobre o problema da terra, que oprimem os membros do Governo, elas por sua vez produzem slides com números muito pragmáticos para explicar aos demais como funciona o mercado rural e/ou o cadastro. Afinal, é disso que se trata o diálogo.

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