Descrição Literária

Explicamos o que é a descrição literária, suas características e quais tipos existem. Além disso, informamos quais são suas funções.

descrição literária
A descrição literária enfatiza a linguagem e a forma como ela está sendo usada.

O que é descrição literária?

A descrição literária ou descrição subjetiva é uma forma de descrição, típica de textos poéticos ou literários, em que mais atenção é dada às impressões e sensações que o objeto ou situação descrita desperta na pessoa que a descreve do que à caracterização real e objetiva de como eles são

Em outras palavras, é uma forma de descrever que não coloca tanta ênfase em dizer como a coisa realmente é, mas sim em como ela pode ser apreciada ou pensada subjetivamente, para assim obter um efeito. estético. Nisso a descrição subjetiva, típica dos textos literários ou poéticos, se distingue de outras formas de descrição típicas dos textos jornalísticos, científicos e práticos.

Assim como nos textos de tipo literário, em uma descrição subjetiva a ênfase é colocada na linguagem e na forma como ela está sendo usada, e não nas características objetivas da coisa que está sendo descrita. Assim, enquanto uma descrição científica e objetiva provavelmente forneceria medidas exatas das dimensões de um objeto (seu peso, suas proporções, sua composição), uma descrição literária e subjetiva poderia dizer a que outro objeto ele se assemelha ou a quais situações ele evoca em um personagem. ele evoca, observa.

Esse tipo de descrição pode ser apreciado em um poema, como no caso de “Em memória de Angélica” (1975) do autor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), onde ele diz:

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..procure minha sombra os mitos desgastados
de uma pátria que sempre deu as caras.
Uma breve bola de gude cuida de sua memória;
sobre nós cresce, atroz, história.

Nesse trecho podemos perceber a descrição poética que se faz a partir dos adjetivos, como em “mitos gastos” e “mármore breve”, duas metáforas que descrevem os substantivos de forma singular (“mitos” e “mármore”): a primeira atribui uma característica corpórea (desgastada) a algo incorpóreo (mitos), enquanto a segunda atribui uma característica de temporalidade (brevidade) a uma coisa física (mármore). Não seria o mesmo dizer que os mitos são antigos e que o mármore é duro, por exemplo, o que seria uma forma mais convencional de descrever esses referentes.

O mesmo ocorre com a frase “…uma pátria que sempre deu a cara”, na qual são atribuídos traços humanos à pátria e descrita figurativamente sua história política ou militar. Esses tipos de descrições passam necessariamente pela subjetividade e sensibilidades do autor.

Veja também: Descrição objetiva e subjetiva

Características da descrição literária

A descrição literária é caracterizada pelo seguinte:

  • Consiste em oferecer ao leitor as características de um objeto, situação ou referente certo. Mas, ao contrário de outras formas de descrição, neste caso é usada uma linguagem poética e subjetiva.
  • Não se destina a descrever a coisa de forma objetiva e verificável, fornecendo seus detalhes e medidas, mas sim causar uma impressão estética no leitor artístico.
  • Ele recorre muitas vezes a metáforas como formas de estabelecer descrições comparativas e atribuir características incomuns aos referentes descritos. Da mesma forma, ele usa figuras retóricas como hipérbole, humanização e oxímoro, entre muitos outros.
  • Não costuma usar linguagem técnica nenhum método formal de descrição e não pretende ser útil ou aplicável ao mundo real.
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Tipos de descrição literária

A descrição literária pode ser classificada em dois tipos: estática e dinâmica.

  • Descrição estática. É aquela em que o tempo da história desacelera ou para, ou seja, a ação da história narrada é deixada de lado para focar na descrição do ambiente ou nos sentimentos do momento. Pode ser reconhecido porque usa verbos de descanso e observação, como “parecer”, “ser”, “ter”, “situar”, “ver”, ou porque o tom geral é enunciativo.
    Um exemplo claro desse tipo de descrição pode ser visto no parágrafo seguinte do romance Dona Bárbara (1929) do autor venezuelano Rómulo Gallegos (1884-1969):
    “Terras áridas, quebradas por ravinas e sulcadas por torrões. Bois magros, de olhar sombrio, lambiam aqui e ali, numa obsessão impressionante, as ladeiras e ladeiras do lugar triste. Os ossos dos já sucumbidos embranqueciam ao sol, vítimas da terra salgada que os viciava a ponto de os fazer morrer de fome, esquecidos da relva, e grandes bandos de abutres pairavam sobre o fedor da carniça.
  • Descrição dinâmica. É aquele em que o tempo da narração não para ou desacelera tanto, mas passa graças à incorporação de certos elementos dinâmicos. Isso significa que a descrição permite que a ação progrida, em vez de interrompê-la para explicar como as coisas se parecem. Esse tipo de descrição é muito comum ao narrar situações de mudança ou em que ocorrem eventos simultâneos.
    Temos um exemplo desse tipo de descrição no conto “Cidade de Deus” do escritor brasileiro Rubem Fonseca (1925-2020):
    “O nome dele é João Romeiro, mas é conhecido como Zinho na Cidade de Deus, favela de Jacarepaguá, onde controla o tráfico de drogas. Ela é a Soraia Gonçalves, uma mulher dócil e tranquila. Soraia descobriu que Zinho era traficante dois meses depois de começarem a morar juntos em um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca. Isso te incomoda?, perguntou Zinho, e ela respondeu que já tivera na vida um homem dedicado à Lei que não passava de um canalha”.
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Funções da descrição literária

A descrição literária cumpre as seguintes funções dentro do texto literário:

  • Permite criar uma atmosfera. Ou seja, fornece os detalhes necessários para que o leitor possa mergulhar no universo da história e imaginar com mais vivacidade como as coisas acontecem na ficção.
  • Permite suspense. Dado que retarda a ação do texto literário, a descrição permite retardar ou retardar a chegada da resolução da anedota ou prolongar os momentos culminantes para que gerem mais intriga e uma maior resposta emocional do leitor.
  • Permite que o leitor se aproxime de um personagem. Em geral, nos textos literários, as personagens mais e melhor descritas são aquelas que mais se aproximam emocionalmente do leitor e com as quais mais se identificam. Por outro lado, aqueles que lhe são mais obscuros e desconhecidos, importam-lhe menos e, por isso, têm um papel mais secundário na sua leitura.
  • Permite recriar o ponto de vista do narrador. Principalmente quando a história é contada por um personagem, detalhes e descrições são necessários para que a forma de contar soe verdadeiramente deles, e não como uma história contada por uma voz neutra e genérica.

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Referências

  • “Descrição” na Wikipédia.
  • “As melhores descrições literárias de personagens, segundo os leitores” na ABC Cultura (Espanha).
  • “Descrição literária?” (exercício) no Educaplay.